Quando lemos no Alcorão a respeito da natureza do homem, frequentemente encontramos o termo "alma". Alma, em árabe é "nefs" e significa o "eu", "a personalidade".
O Alcorão diz que a alma do homem tem dois lados: um que governa o mal e o outro que cuida de evitar este mal. O capítulo "O Sol" diz o seguinte:
"Pela alma e por Quem a aperfeiçoou, e lhe imprimiu o discernimento entre o que é certo e o que é errado, que será venturoso quem a purificar (a alma), e desventurado quem a corromper."(Alcorão 91:7-10)
A informação contida nos versículos acima é de suma importância. Quando criou o homem, Deus inspirou o discernimento para o errado. Errado, isto é, "fucur" em árabe, quer dizer "romper os limite do certo". No sentido religioso, quer dizer: "experimentar o pecado e se rebelar, mentira, desobediência, transgressão, adultério, corrupção moral, etc."
Conforme citado nos versículos acima, Deus inspira o discernimento entre o bem e o mal. A pessoa que admite o mal em sua alma e que o impede, obedecendo à inspiração de Deus, e purifica sua alma, será salva. Receber a vontade de Deus, Sua Misericórdia e Seu Paraíso é a única forma para se alcançar a salvação, ao passo que a pessoa que esconde sua alma e não a purifica do mal que nela existe, será levado para a corrupção. Esta corrupção é a maldição de Deus e o fim é o inferno.
Neste ponto, vemos uma consequência importante: há um lado mau em cada alma humana. A única forma de se purificar deste mal é aceitar o que Deus ordena e impedir que este mal encontre abrigo dentro de nós.
Uma das mais importantes diferenças entre os crentes e os incrédulos aparece justamente aqui. Uma pessoa sabe, e aceita, que sua alma tem um lado mau e que ela precisa impedí-lo com atitudes morais e com os conhecimentos por ela adquiridos do Islam. Um dos maiores aspectos da religião, e do mensageiro que comunica esta religião, é revelar a existência do mal na alma e a forma de purificá-la. O Capítulo 2:87 assim se dirige aos judeus: "…Cada vez que vos era apresentado um mensageiro, contrário aos vossos interesses, vós vos ensoberbecíeis! Desmentíeis uns e assassináveis outros." Os infiéis abrigam o mal em suas almas e não aceitam o que a religião verdadeira lhe traz, nem a pessoa que a revela, porque contrariam seus próprios interesses. Tais pessoas não conseguem purificar suas almas, antes pelo contrário, abrigam este mal e o mantém lá, conforme mencionado nos versículos.
Portanto, podemos dizer que os infiéis acatam o mal que existe em suas almas e assim, não têm uma consciência verdadeira. É, de alguma forma, uma vida instintiva. Neste caso, todos os comportamentos e pensamentos são ditados pelos instintos emanados do mal existente na alma. Esta é uma das razões pelas quais o Alcorão define os infiéis como "animais".
Diferentemente dos infiéis, os crentes conhecem Deus, temem-No e evitam desobedecer às Suas regras. Por isto, os crentes não obedecem àquele lado mal de suas almas, mas o enfrentam, conforme Deus ordena. No Capítulo 12, versículo 53, José diz: "Porém, eu não me escuso, porquanto o ser é propenso ao mal, exceto aqueles de quem o meu Senhor se apiada, porque o meu Senhor é Indulgente, Misericordiosíssimo." Este versículo nos ensina como devemos pensar: o crente deve ser cuidadoso e ter em mente que sua alma tentará desviá-lo do verdadeiro caminho.
Até agora, lemos sobre o lado "mau" da alma. Dentro do mesmo versículo vimos que também é inspirado à alma impedir o mal. Este lado da alma, que guia o homem para Deus e para as verdades da religião e para as boas ações, é comumente chamado de espírito.
Contudo, o sentido que o Alcorão dá para espírito é muito diferente do sentido comumente conhecido. O significado para espírito mais comumente conhecido, inclui somente o dar aos pobres ou apoiar os direitos dos animais, ou amar os animais, etc. Contudo, o espírito do crente faz com que ele obedeça às regras determinadas pelo Alcorão. É o espírito que o capacita a compreender os conceitos mencionados no Alcorão de um modo genérico.
O Alcorão, por exemplo, orienta os crentes a gastarem de seus bens mais do que o necessário. É claro que cada pessoa define esse "mais do que necessário". Uma pessoa desprovida de um espírito forte não concordará com esse mandamento de Deus e, portanto, será incapaz de agradá-Lo.
O crente faz muitas escolhas durante a vida. Entre as alternativas que se lhe apresentam, ele é obrigado a escolher aquela que está mais de acordo com a vontade de Deus e aquela que é mais benéfica para a sua religião. Quando ele faz sua escolha, em primeiro lugar ele se volta para dentro de seu espírito, que lhe dirá o que mais agrada a Deus. Em segundo lugar, seus interesses particulares estarão envolvidos e tentarão desviá-lo para outras alternativas. Então, a alma lhe susurra as razões e as desculpas adequadas. O Alcorão, em muitos versículos, chama nossa atenção para essas "desculpas":
"Neste dia, a escusa dos iníquos de nada lhes valerá, nem serão resgatados." (Alcorão 30:57)
"(Será) o dia em que aos iníquos de nada valerão as suas escusas, senão que receberão a maldição, e terão a pior morada." (Alcorão 40:52)
O crente não deve dar ouvidos a esta espécie de desculpa e sim ao que o seu espírito lhe diz para fazer. Os exemplos dados no Alcorão, com relação ao espírito dos crentes, nos leva a pensar sobre a questão. No caso do crente que está preocupado porque não encontra um meio de lutar contra, o Alcorão diz em um dos versículos:
"Estão isentos: os inválidos, os enfermos, os baldos de recursos, sempre que sejam sinceros para com Deus e Seu Mensageiro.. Não há motivo de queixa contra os que fazem o bem, e Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo. Assim como foram considerados (isentos) aqueles que se apresentaram a ti, pedindo que lhes arranjasses montaria, e lhes dissestes: Não tenho nenhuma para proporcinar-vos; voltaram com os olhos transbodantes de lágrimas, por pena de não poderem contribuir." (Alcorão 9:91-92)
Lutar contra os inimigos pode parecer muito perigoso. A pessoa que começa lutando (numa guerra) sabe que pode morrer ou se ferir. Não obstante, o crente quer lutar pela causa de Deus e fica triste quando ele não consegue. Este é um exemplo notável de espírito, a que se refere o Alcorão.
A alma pode não provocar o extravio do crente num primeiro momento, mas tenta sempre desviá-lo da religião, sugerindo compensações menores. Por exemplo, ela tenta induzi-lo a adiar alguma coisa que ele teria que fazer pela causa de Deus. Apresentando algumas razões, a alma tenta abalar a sua determinação, fazendo algumas pequenas considerações. Neste caso, as pequenas desculpas da alma são compensadas, seu impacto se torna maior e pode, mesmo, levar o homem a abandonar sua crença em Deus. O fiel é obrigado a se comportar de acordo com os mandamentos de Deus em cada caso, e não de acordo com sua alma, anulando os desejos egoístas de sua alma. Diz o Alcorão:
"Temei, pois, a Deus, tanto quanto possais. Escutai-O, obedecei-Lhe e fazei a caridade, que isso será preferível para vós! Aqueles que se preservarem da avareza serão os bem-aventurados." (Alcorão 64:16)
Neste versículo, os fiéis são orientados a temer a Deus, a obedecê-Lo, a ouvir Seus conselhos e a gastar por conta d’Ele, uma vez que isto salva a pessoa "dos desejos egoistas da sua alma" e o possibilita alcançar a verdadeira bem-aventurança. Um outro versículo a respeito deste assunto, é o que se segue:
"Ao contrário, quem tiver temido o comparecimento ante o seu Senhor e tiver refreado em relação à luxúria, terá o Paraíso por abrigo." (Alcorão 79:40-41)
A alma de uma pessoa que evita os desejos egoístas e, dessa forma a purifica e obtém a satisfação de Deus, e o Paraíso, é chamada, no Alcorão, de "alma em completa paz e satisfação."
"E tu, ó alma em paz, retorna ao teu Senhor, satisfeita (com Ele) e Ele satisfeito (contigo). Entra no número de Meus servos! E entra no Meu jardim!" (Alcorão 89:27-30)
Se, pelo contrário, uma pessoa só atende aos desejos egoístas de sua alma e inicia sua vida depois da morte sem a ter purificado, será tomada por um profundo arrependimento e não usufruirá de qualquer benefício. As almas arrependidas e autopunitivas de bilhões de infiéis, que viveram ignorando a necessidade de purificação de suas almas, comporão uma terrível e desagradável visão. Esta é a grande e inevitável realidade que espera os infiéis. Portanto, Deus chama para testemunhar "o espírito autopunitivo", logo após o Dia da Ressureição.
Hayır, kalkış (kıyamet) gününe and ederim."Juro, pelo Dia da Ressurreição, e juro pela alma que reprova a si mesma." (Alcorão 75:1-2)